quarta-feira, 7 de abril de 2010
Orson Welles / Andy Richter
Fazendo uma breve pesquisa pela Wikipédia, ficamos a saber que Orson Welles foi adepto do Botafogo. É isto o que verdadeiramente importa saber na vida de um dos mais geniais realizadores de cinema. Os nossos primos do outro lado do Atlântico, não contentes com a afirmação peremptória de que Deus é brasileiro, ainda nos atiram esta à cara: «Orson Welles era do Botafogo». Não importa saber se o era ou não. Esta afirmação pura e simples é tanto mais interessante quanto mais irrelevante se torna saber se o realizador sequer gostava de futebol. Já Marcel Proust escrevia - na obra «Em Busca do Tempo Perdido» e indicando as opiniões que a sociedade mantinha acerca de Swann - que as pessoas carregam consigo as várias personalidades forjadas pelas perspectivas que os outros construíram sob o signo das convivências e das conveniências sociais. Stendhal corroborava esta ideia ao afirmar que "Um homem pode alcançar tudo na solidão, excepto um carácter". É talvez por isso que nos interessamos tanto pelo que os outros pensam de nós; porque tudo o que seja dito pelo outro nos soará sempre a novidade e confirmará aquilo que somos. E apesar de Alain de Botton sugerir que o olhar dos outros é um espelho reflectindo imagens maiores ou menores do que o original, tenho para mim que os outros nunca pensam tão bem ou tão mal de nós quanto somos tentados a crer. Há um exemplo recente que comprova o quanto um acontecimento pode influenciar a nossa opinião acerca do que quer que seja. Todos caímos no erro de atribuir à personalidade de Conan O’Brien o facto comezinho de haver injustiças que se justificam pelos números. Desde então ainda não conseguimos olhar para ele sem que essa ideia de repulsa pela iniquidade nos não tolde a visão. No que me toca, estou a tentar libertar-me disso; disso e do facto de Orson Welles ter sido adepto do Botafogo.
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