quarta-feira, 31 de março de 2010
Richard Dean Anderson / James Wilson
O Macgyver e o Dr. House não são tão diferentes quanto seríamos tentados a supôr. Ambos se deparam com situações excepcionais e ambos solucionam algum problema aparentemente irresolúvel de um modo engenhoso. São duas perspectivas distintas de encarar o mesmo fenómeno: a fé na ciência. Por um lado temos o engenheiro, por outro o médico. Sempre achei que o grande defeito do Macgyver era não ter defeito algum. Quanto ao House, tem tantos defeitos que só pode ser perfeito, o que também enjoa. É certo que os médicos levam vantagem considerável sobre os engenheiros. Não apenas comem mais gajas como há mais séries sobre eles do que sobre qualquer outra profissão (excepção feita, em tempos idos, aos advogados). É um ciclo vicioso: comem mais, despertam mais atenção; despertam mais atenção, comem mais. Em Portugal ainda ninguém se apercebeu desta lógica: se a média para entrar em medicina é tão elevada, como vão eles depois comer quem quer que seja se passaram a vida de estudante com o nariz enfiado nos livros?
Deixo-vos com uma passagem de «Guerra e Paz», de Tolstoi, a propósito do Génio (se não o leram, esqueçam, é muito grande e consumir-vos-á tempo precioso):
Num rebanho de carneiros, o carneiro que o pastor fecha todas as noites num cercado especial para que seja alimentado à parte e venha a ficar duas vezes mais nutrido do que os outros deve necessariamente parecer um génio. E pelo facto, precisamente, de este carneiro ter sido criado à parte, com uma alimentação especial, o ser vendido para o talho deve considerar-se uma circunstância genial ligada a toda uma série de circunstâncias extraordinárias.
Basta, porém, que os outros carneiros deixem de acreditar que o que acontece é apenas o resultado de se pretender realizar os objectivos próprios dos criadores de gado: basta-lhes admitir que os objectivos em vista podem ser-lhes ininteligíveis, para que eles encarem a engorda de um dos seus pares um acontecimento com a sua unidade e o seu desenvolvimento lógico. Ignorando a razão desse acontecimento, saberão pelo menos que ele não se produziu de improviso e que não terão necessidade de recorrer nem ao azar nem ao génio.
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