terça-feira, 23 de outubro de 2012

Pavilhão Atlântico / Senado Galático

Numa época em que bandeiras içadas de pernas para o ar surgem na máxima potências das suas condições de possibilidade, falar de um edifício que se pretende uma nave espacial albergando o cavername invertido de uma nau quinhentista parece, no mínimo, apropriado. Pelo menos foi essa a intenção dos criadores do Pavilhão Atlântico: representar, simbolicamente, a Epopeia dos Descobrimentos, através do travejamento em madeira que sustenta a cobertura do dito pavilhão. Assim, no decurso de todos estes tristes anos, ali se pôde ouvir tanto as deliberações dos capitães do mar e as canções de Dave Matthews, como a chusma a cantar o “Ai Destino” do Tony. No fundo, Portugal é realmente isto: a noite de Dédalo, o primeiro homem-pássaro, e a noite de Tony, o último “homem-pássara”; aquela pássara das quarentonas divorciadas que enxameiam as plateias do Secret Story e lêem a Maria enquanto esperam pelas naves da STCP. É certo que a chusma de outros tempos sofreu as ignomínias das elites. Mas se nessa época se passava fome, era pelo menos por um ideal universal: a descoberta das índias, a demanda do Preste João e a criação do caril, o levantar do véu do continente americano e o celular das periguetes de Fortaleza. Hoje, a chusma que somos nós, se padece as infâmias da troika, é só por um real individualista: um exército de clones sem o 1 de Dezembro nem o 5 de Outubro a preservar os jactos dos que têm demasiada testosterona para serem apenas violadores. “So procreate and pay your taxes”, assim canta Andrew Bird. Nos tempos estranhos que são os nossos, eu diria: “Que a força esteja contigo”; mas de pouco adianta o optimismo geek. A força está com o Jardim Gonçalves.